16 outubro 2008

Ensinamentos

Uma bonita história, com milhares de anos... tenho aprendido tanta coisa nova..



Buda estava sentado debaixo de uma árvore com os seus amigos e discípulos

Um homem aproximou-se e bateu-lhe no rosto. Buda esfregou o local e perguntou ao homem:- E agora? O que vai querer dizer?

O homem ficou um pouco confuso, porque ele próprio não esperava que, depois de dar uma estalada no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: "E agora?" Ele nunca passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era nem uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tão pouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: "E agora?" Não houve reação da sua parte.

Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:- Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todos vão começar a fazer dessas coisas.

- Fica quieto – interveio Buda – Ele não me ofendeu, mas tu estás a ofender-me. Ele é novo, um estranho. Ele pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma idéia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa idéia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que "aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor". Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma idéia. Ele bateu nessa idéia. Se vocês refletirem profundamente, continuou Buda, ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa :ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que sentimos que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração. Há momentos de grande intensidade em que a linguagem é impotente; então precisamos fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão a fazer? Estão a dizer algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão a dizer algo. Eu entendo este homem. Ele deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: "E agora?"

O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:- Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem. Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir. Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. Novamente, Buda perguntou:- E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. Voltando-se para os discípulos Buda falou:- Olha, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está a dizer alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas. O homem olhou para Buda e disse:- Perdoa-me pelo que fiz ontem.

- Perdoar? – exclamou Buda. – Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua a correr, nunca é o mesmo Ganges denovo. Todo homem é um rio. O homem em quem bateste não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar-te porque não tenho rancor contra ti. E tu também és outro, continuou Buda. Posso ver que não és o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado. Ele bateu-me e tu estás inclinado aos meus pés,tocando os meus pés; como podes ser o mesmo homem? Tu não és o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Vem cá. Vamos conversar.


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